Analise e Critica

01/05/2010 21:04

Estilo

Inocência é considerado um livro do regionalismo porque valoriza os costumes típicos do mundo rural e as particularidades do meio natural. Alguns autores consideram que Taunay escreveu o livro sob os parâmetros do regionalismo empregando em seus enredos e principalmente em seus personagens algumas características muito claras desse estilo literário, como a hospitalidade que o sertanejo dá aos viajantes que pedem pousada, a preservação de honra que precisa assegurar a família, o casamento como acordo entre famílias, o analfabetismo, o comportamento vingativo, a crendice e os juramentos à santos. Apenas podemos conhecer esse regionalismo através dos sertanejos Pereira e sua filha Inocência, mas isso não basta: Taunay introduziu dois personagens no enredo que não faziam parte desse ambiente, ou seja, Cirino e Meyer, e é por meio de ambos que os leitores irão compreender a família do sertão.

Sob outro aspecto, os enredos secundários do livro são considerados quase todos como realista e, embora ele possua um enredo ultra-romântico, os personagens Cirino e Inocência nos são apresentados de forma mais humana do que os outros personagens dos livros românticos da época de Taunay. Podemos concluir que Taunay combinou o discurso romântico com o realista e, com isso, produziu um estilo raro na literatura brasileira, engendrando na obra elementos típicos de todas as histórias de amor e também elementos que descrevem a fala e o ambiente de uma região (no caso, o sertão do Brasil).

Estrutura dramática

Em Inocência, Taunay caminha pela comédia, pelo drama e pelo romance. O personagem Meyer, naturalista alemão, às vezes é descrito como uma pessoa que tem grandes conhecimentos científicos, mas que pouco sabe da estreiteza moral do mundo que vive e é considerado um dos protagonistas mais cômicos da ficção brasileira do século XIX quando comete algumas trapalhadas.

Mas, de fato, o drama se estabelece com o assassinato de Cirino que acaba formando um fim trágico onde a protagonista definha em amargura, solidão e tristeza e morre numa caracterização típica do romantismo. Ao mesmo tempo, o encontro amoroso, os conflitos familiares e o fim trágico em Inocência também são vistos como aventura.

Tempo e espaço

O dia 15 de Julho de 1860 e o dia 18 de Agosto de 1863 são as únicas datas do romance. A primeira data diz respeito ao dia em que Pereira encontrou-se com Cirino, e a segunda data diz respeito ao dia em que Meyer, já no final do romance, está na Alemanha e apresenta à comunidade científica do país a descoberta da Papilio Innocentia (esse evento nos é noticiado pelo Die Zeit). Após o noticiário, nos é apresentada a "voz" do narrador, de onde poderemos concluir que os acontecimentos em Inocência acontecem em um período de três anos, sendo que ocorrem entre 1860 e 1861, enquanto que os dois anos que se seguiram constituem um espaço vazio. Machado, A. Irene, "Tempo Convencional e Tempo Histórico" :

Inocência, coitadinha... Exatamente nesse dia fazia dois anos que o seu gentil corpo fora entregue à terra, no imenso sertão de Sant’Ana do Paranaíba, para aí dormir o sono da eternidade.Taunay, p. 158

O espaço em Inocência é muito claro: sertão do Mato Grosso. Segundo o narrador, na região onde "confinam os territórios de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso", na "parte sul-oriental da vastíssima província de Mato Grosso".Taunay, p. 1 Taunay conhecia profundamente esse ambiente e procurou descrever o espaço do romance através de seu contexto nos costumes sertanejos. Buscando interpretar o sertão de Mato Grosso para captar e traduzir todos os elementos locais, Taunay descreve o ambiente em que o enredo irá se prolongar de uma forma minuciosa e detalhista:

O legítimo sertanejo, explorador dos desertos, não tem, em geral, família. Enquanto moço, seu fim único é devassar terras, pisar campos onde ninguém antes pusera pé, vadear rios desconhecidos, despontar cabeceiras e furar matas, que descobridor algum até então haja varado. Cresce-lhe o orgulho na razão da extensão e importância das viagens empreendidas; e seu maior gosto cifra-se em enumerar as correntes caudais que transpôs, os ribeirões que batizou, as serras que transmontou e os pantanais que afoitamente cortou, quando não levou dias e dias a rodeá-los com rara paciência.Taunay.

Linguagem e narrador

Em Inocência, o narrador foi construído sob uma tendência dominante na narrativa romântica do século XIX, onde ele é onisciente, ou seja, conhece os pensamentos e os desejos das personagens, e onde também é onipresente. Atendendo às necessidades de um romance regionalista, a narrativa de Inocência apresenta um único ponto de vista para focalizar os costumes e os valores sociais do ambiente. O narrador utiliza a narrativa em terceira pessoa e, de forma muito interessante, enquanto obedece à norma culta da língua portuguesa, procura sempre registrar na fala das personagens o regionalismo e o coloquialismo, que é característica da região.

O narrador de Inocência, a exemplo do estilo machadiano, também mantém um contato direto com o leitor que o lê, apresentando estratégias de seu processo narrativo, fazendo cortes e sugerindo que o leitor faça cortes e selecione o que lhe convém: